O Brasil Precisa de Agências Reguladoras Fortes e Independentes.
Uma sociedade equilibrada e estável tem em sua base a garantia e exercício independente do poder regulador, pois é primordial na defesa dos direitos do cidadão frente ao Setor Público e Privado, já que oferece a segurança de um mercado estável e controlado. Um país onde há estabilidade política e econômica estabelece um cenário econômico favorável e atrai investimentos. Porém, o mesmo não acontece quando temos um país que é refém da “politicagem” e do setor privado. Observamos a partir desta revisão teórica e breve apresentação de dados, que o Brasil ainda caminha a dar passos lentos em direção à efetiva proteção do mercado por parte das agências reguladoras.
O
histórico do poder regulador no Brasil mostrou como as agências reguladoras do
Brasil, mesmo que depois de 22 anos de atuação, ainda enfrentam problemas que
dificultam sua eficácia na defesa do consumidor e regulação dos serviços
públicos. Problemas que encontram sua raiz no modelo estrutural do poder
regulador, mas que principalmente advém da cultura política do país –
autoritária e centralizada no chefe executivo.
As
Agências Reguladoras no Brasil apareceram no final dos anos 90 com a
redemocratização, políticas de privatização e da terceirização dos serviços
advindos do Governo Fernando Henrique. Diferentemente do contexto Americano e
Europeu, o poder regulador no Brasil é Top-Down e na prática tem suas
atividades delimitadas pelos interesses do governo atuante e “peixes grandes”
do mercado (interno e externo). Outro entrave advém do processo de indicação
dos dirigentes. Esse processo ocasiona a limitação de autonomia frente à
“obediência política” a quem os colocou ali – no caso, Presidente da República
e Senado. O que prejudicada diretamente as agências devido à politização do seu
alto escalão.
A
independência é fundamental para que o poder regulador consiga exercer sua
função, pois condiciona o alinhamento do interesse público e privado e
desvincula-o da política governamental, desaparecendo a noção de que cada
governo traz consigo suas próprias leis e marcos regulatórios. É importante
destacar a importância da desvinculação das agências com o governo para que
estas não sejam reféns da situação política. Ou seja, conclui-se que quanto
maior o risco de mudanças de governo e instabilidade política, maior deve ser a
autonomia da agência para que os interesses da sociedade e estabilidade do
mercado permaneçam protegidos. Além do mais, um país onde não há confiança nas
agências reguladoras, não oferece um cenário favorável para investimentos e
consequentemente, para o desenvolvimento econômico.
Outra
problemática a ser destacada é de dimensão financeira. Embora parte das
agências reguladoras tenham instituído a cobrança de taxas setoriais como fonte
de arrecadação para custeio de suas atividades, elas não possuem a gestão
direta e autônoma sobre os valores arrecadados. As reguladoras têm seu
orçamento atrelado ao orçamento do Ministério a qual são vinculadas, o que traz
uma dependência e falta de autonomia frente à suas ações e decisões – ferindo
novamente o princípio de independência administrativa. Neste sentido, apesar
das taxas, cuja destinação é vinculada, representarem valor expressivo no
orçamento da agência e serem suficientes para o custeio das atividades da
mesma, essas entidades continuam atreladas ao Governo e em situação de
insuficiência de recursos por não conseguirem o acesso maneira autônoma.
Não
menos importante, está a questão do relacionamento com o cidadão. Pesquisas
relataram que o cidadão brasileiro ainda está distante das agências
reguladoras, seja por descrença, falta de credibilidade ou por ignorância. Esse
impasse sem dúvida é um grande desafio para o fortalecimento do poder regulador
no Brasil. Desmistificar e aproximar a sociedade a fim desta participar e
recorrer às agências é de suma relevância. As Agências Reguladoras vêm transformando
sua performance e buscam modernizar-se a fim de facilitar o acesso e atrair o
cidadão para perto de si. A partir do que é relatado na pesquisa da FGV (2013),
as agências reguladoras brasileiras por mais que tenham disponibilizado as
informações para o consumidor em seus portais na internet, não atingem os
mesmos pois eles não as procuram (98% dos entrevistados negaram recorrer às
agências), o que nos alerta enxergar a necessidade de buscar um meio
alternativo mais eficaz para lográ-lo.
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